Escalabilidade na prática: o que você precisa entender antes de tudo - parte 1

Escalabilidade na prática: o que você precisa entender antes de tudo
Se tem uma coisa que nem todo curso ensina e que muitas empresas grandes escondem, é o básico sobre como um sistema realmente vai para produção. Parece algo trivial, mas acredite: já conheci desenvolvedores seniores que nunca precisaram fazer um deploy. Isso porque, em empresas de grande porte, é comum existirem processos extremamente burocráticos e ferramentas automatizadas que cuidam disso.
Mas o que acontece quando você sai desse ambiente e precisa colocar um sistema no ar sozinho? Antes de falar sobre escalabilidade, precisamos entender o que significa colocar um sistema para rodar na prática. Isso inclui desde o básico — como funcionam a internet, os servidores, o DNS e a hospedagem — até questões mais complexas, como estratégias de deploy e monitoramento.
E é aqui que entra uma questão importante: antes de escalar, um sistema precisa existir. E por muito tempo, sistemas foram construídos de maneira simples e direta, sem grandes preocupações com crescimento. O modelo mais comum era o monolito: um único aplicativo rodando em um servidor, atendendo todas as requisições. Para poucos usuários, isso funcionava bem, e escalar era uma questão de adicionar mais poder de processamento. Mas será que essa abordagem funciona quando falamos de milhares ou milhões de requisições?
Na prática, essa foi a realidade da maioria dos sistemas por muitos anos e ainda é um modelo válido quando bem dimensionado. No entanto, conforme a demanda cresce, surgem desafios que precisam ser resolvidos para que o sistema continue funcionando de forma eficiente.
Monolitos e a falsa urgência dos microsserviços
Por muito tempo, sistemas foram construídos seguindo o modelo MVC (Model-View-Controller) com tecnologias como .NET, Java e PHP. Esses sistemas geralmente rodavam em uma única máquina, onde toda a lógica de negócio, sessões de usuário e conexões com o banco de dados estavam centralizadas. Isso funcionava bem para projetos menores, mas quando o número de usuários começava a crescer, os desafios surgiam.
Escalar um monolito exigia um pensamento diferente: como distribuir sessões de usuários? Como evitar gargalos no banco? Como reduzir a carga no servidor? A solução geralmente passava por separar melhor as conexões, armazenar sessões de usuário em bancos NoSQL como Redis e implementar cache para reduzir acessos diretos ao banco de dados. Era um trabalho mais manual, mas ainda assim possível.
Por exemplo, imagine que seu sistema tem milhares de usuários logados simultaneamente, e cada um precisa manter uma sessão ativa no servidor. Se essas sessões estão armazenadas apenas na memória local, cada nova instância de aplicação criada para suportar a demanda perde essas informações. Esse é um dos desafios mais comuns ao escalar um monolito, e soluções como Redis ajudam a manter a consistência das sessões entre múltiplas instâncias.
Hoje, com a facilidade da cloud, essa abordagem caiu em desuso. Infraestrutura escalável está a um clique de distância, e isso fez com que muitas empresas passassem a gastar muito mais do que o necessário. Em vez de otimizar um sistema monolítico para suportar um volume maior, muitos times caem na armadilha de partir direto para microsserviços sem antes validar a necessidade real.
Esse é um dos maiores erros quando se fala em escalabilidade. A cloud trouxe um avanço enorme para escalabilidade, mas sem um bom planejamento, o custo pode escalar tão rápido quanto o sistema. Dividir um sistema em microsserviços sem dimensionamento adequado pode gerar complexidade desnecessária, dificultar a manutenção e aumentar os custos sem ganhos reais de performance. Antes de qualquer decisão, é essencial saber medir o impacto da carga no sistema e entender como otimizá-lo sem perder eficiência.
Além disso, sistemas distribuídos trazem novos desafios, como o problema de invalidação de cache, onde múltiplos serviços podem estar servindo dados desatualizados por não conseguirem invalidar caches corretamente entre instâncias. Esse tipo de problema pode comprometer a consistência dos dados e deve ser considerado no design da aplicação.
Às vezes, investir tempo em otimizar um monolito antes de sair quebrando serviços pode economizar milhares de dólares em infraestrutura. Dimensionar corretamente o sistema e realizar testes de carga são passos fundamentais para garantir que a escalabilidade seja feita de forma eficiente e sustentável.
O erro comum na adoção de microsserviços
Muitas empresas se inspiram em cases de sucesso como Netflix, Uber e Amazon para justificar a adoção de microsserviços, mas ignoram a complexidade que essas empresas enfrentam para alcançar milhões e bilhões de acessos em sistemas distribuídos. Palestras como Mastering Chaos, da Netflix, mostram que para operar nesse nível é preciso muito mais do que apenas dividir um sistema: exige governança, automação e uma forte cultura de DevOps.
Na prática, o que encontramos no mercado são monolitos mal modularizados, serviços mal quebrados e contextos que simplesmente são adicionados ao sistema sem uma visão técnica prévia. Muitas vezes, microsserviços são implementados sem entender os requisitos do negócio, resultando em sistemas difíceis de manter e escalar.
Além disso, a adoção de microsserviços exige uma mudança na mentalidade da empresa. Para que funcione, é preciso construir uma cultura sólida de DevOps, garantindo a existência de CI/CD, testes automatizados, controle sobre a infraestrutura e planejamento de deploys eficientes. Sem esses pilares, a empresa corre o risco de substituir um monolito difícil de escalar por um conjunto caótico de serviços desconectados.
Construir escalabilidade eficiente vai muito além de escolher entre monolitos e microsserviços. O que realmente importa é ter ciência do impacto de cada decisão e garantir que há planejamento e controle para evitar problemas estruturais no futuro.
Adoção dos 12 Fatores
Uma abordagem sólida para guiar a construção de sistemas escaláveis e bem projetados é seguir os 12 fatores definidos pela Heroku. Esses princípios estabelecem boas práticas para o desenvolvimento de aplicações modernas, garantindo que elas sejam portáveis, resilientes e fáceis de manter.
Os 12 fatores abordam desde o controle de dependências e configuração, até práticas de deploy, escalabilidade e logs estruturados. Empresas que adotam esses princípios desde o início criam sistemas mais fáceis de operar e menos propensos a falhas inesperadas.
Próximos passos
Se você gostou desse artigo e quer se aprofundar ainda mais, nos próximos posts do blog irei explorar alguns desses conceitos em detalhes. Vamos falar sobre boas práticas para modularizar sistemas, estratégias eficientes para CI/CD e como monitorar e otimizar microsserviços na prática.
Fique ligado e até a próxima!
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Este post foi criado com a ajuda do ChatGPT